domingo, 21 de agosto de 2016

Pomar

Ontem,  a sombra
Amanhã, o sol
Nesse agosto de instável tempo.
Ah, o tempo!
Esse menino que brinca
No nosso pomar.
Insiste em secar as velhas pereiras,
Que de pé morrem 
E deixam suas grandes sombras
Foram raízes
Que aqui plantaram
Essência
Ancestralidade

Ainda há gosto
Nesse vento que leva
Mas deixa broto
Que ainda não sabemos o gosto
Mas que já vem
Suas flores já aparentes
Descansa à sombra de seus pares
E amanhã berra novo choro
Herança
Hereditariedade

É preciso dizer um adeus
É preciso dizer a Deus
Que é bem vinda nossa primavera
Nossa pequena quimera
Nosso pequeno fruto
Forjado nos de ontem
Para os passos do amanhã.
Destino
Renovação

Nesse pomar, essa tarde
As bananeiras com nome dos meninos
Brincam de crescer em desatino
Nesse destino.
Desse tempo menino
A correr em nosso quintal.
Nesse ciclo
Que se fecha
Mas amanhã já abre.
Maturidade
Colheita

Nesse agosto, novo gosto
Fruta doce mostra seu sabor
Para longe, as folhas secas
Carregadas pelo vento
Levadas nesse intento
Sem lamento
Mas é certo, há frutinhas
Pequeninas e singelas
A nascer por essas terras
De sabor doce e essência terna
Renovação
Vida eterna! 



quarta-feira, 27 de julho de 2016

Silêncio

Mais do que vi
Pior é o que não estava
Na calada de uma noite
Que ainda não amanheceu

O que silencia
Grita dentro de mim
Mais do que está,
O ausente

Esse presente do tempo
Pressente
Em breve, agosto.
Agouro?

Nesse silêncio
Estio
O que já não é nada
Mas me leva tudo.

Mudo.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Guardado

E do que foi 
nada mais resta
nem mesmo a festa
palavras mudas
nem mesmo a muda
da pequena flor.

do seu quintal
nenhuma peça de seu varal
nem seu avental
nem seu vendaval
nem um mimo.

a sua matéria
evaporou
desfez-se em solidão
foi de minha mão
e não mais volta.

seu material
feito de afeto
afeito ao tempo
acabou na poeira
de seu temido vento
sumiu nos dias
que correm depressa
e não esperam.

sua espera
sua quimera
seus vidros transparentes
que não transparecem
sua mesa que não mais é posta
tanta proposta
nessa divisão suposta
em que perdemos.

em que te perdemos
e que sofremos
lembremos
pois só o que resta
é a seresta
de sua lembrança
meus tempos de criança
passados no seu jardim.

meus tempos de menina 
na sabedoria de seu sim
ensinamento
meus tempos maduros
vezes tão duros
suportados por seu café
amparados em sua fé.

suas imagens
seus potinhos
seus paninhos de crochê
seu quarador
sua velada dor
levada como quem leva andor
sua resignação
sua luta

do pé, sua mais doce fruta
seu sapoti
só mesmo a ti
minha devoção
minha saudade
meu doce afeto.

resta, enfim
suas histórias,
suas memórias
essa risada 
no mais, mais nada
do que não tenho
mais ainda guardo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Severo

Com que esmero
que se esmera
em ser severo.

Seu coração
sua maior poção
sua emoção
seu lírio
sua lira

dura feição
doce coração
ódio e amor
nesse senhor
um personagem
a imagem

do desprendimento
do arrependimento
seu intento
em defender
em esconder
em mentes ler
o que se mente
o que se sente

depois, o tempo
depois de tanto tempo?

sempre