quarta-feira, 1 de junho de 2016

Guardado

E do que foi 
nada mais resta
nem mesmo a festa
palavras mudas
nem mesmo a muda
da pequena flor.

do seu quintal
nenhuma peça de seu varal
nem seu avental
nem seu vendaval
nem um mimo.

a sua matéria
evaporou
desfez-se em solidão
foi de minha mão
e não mais volta.

seu material
feito de afeto
afeito ao tempo
acabou na poeira
de seu temido vento
sumiu nos dias
que correm depressa
e não esperam.

sua espera
sua quimera
seus vidros transparentes
que não transparecem
sua mesa que não mais é posta
tanta proposta
nessa divisão suposta
em que perdemos.

em que te perdemos
e que sofremos
lembremos
pois só o que resta
é a seresta
de sua lembrança
meus tempos de criança
passados no seu jardim.

meus tempos de menina 
na sabedoria de seu sim
ensinamento
meus tempos maduros
vezes tão duros
suportados por seu café
amparados em sua fé.

suas imagens
seus potinhos
seus paninhos de crochê
seu quarador
sua velada dor
levada como quem leva andor
sua resignação
sua luta

do pé, sua mais doce fruta
seu sapoti
só mesmo a ti
minha devoção
minha saudade
meu doce afeto.

resta, enfim
suas histórias,
suas memórias
essa risada 
no mais, mais nada
do que não tenho
mais ainda guardo.