quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Terminal *

* Poema rabiscado em guardanapos de uma lanchonete, em 13/09/2012, no Terminal Rodoviário de Niterói-RJ

Mesmo caminho de outrora,
mesmas ruas, mesmo frenesi.
Gente, carros, faróis, pressas.
Cidade! Urbanização! Asfalto!

Como não doer o coração?
Como dar vez à razão?
Como não lembrar?
Como impedir a ferida de sangrar?

Memória, eterna inimiga!
Sem ela, sem vida
Sem ela, mesmo engano
Sem ela, mesmos erros.

É de fazer doer tanto,
Que traz o fim do encanto.
É de escolher não mais o pranto,
Que digo, meio tonta

Dói! Muito, imenso, intenso
E é assim que penso
Nunca mais me deixar morrer!
Deixar cicatrizar, deixar doer!

Deixar latejar,
Sem pressa,
Sem remédios, sem droga
Até que um dia sare.

Como diria o poeta,
Pode ser que seja amanhã.
Enquanto espero, plácida,
O novo, nesse terminal.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ledo engano

Atiro no escuro.

Acertei?
Qual o alvo?
Qual a mira?
Atingi?

Entendi.
Me calei.
Sem resposta.

Entendeste?

Não! Não é esse o pano de fundo.
Minha história é do imundo.
De quem?
Não pra você, meu bem!

Ditos, não ditos
Várias interpretações.
Novas ações.
Outros planos.

Ledo engano!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Esconderijo

Por que se escondes?
Do que tens medo?
Acaso o que vives é segredo?

Onde guardastes a ousadia?
Atrás de portas e janelas?
Por entre becos e vielas?

Não tiveste tanta coragem?
Não foste capaz de tudo?
Por que agora o gesto mudo?

Se és capaz de tanto
Onde está o teu encanto?
Guardou-o em um canto?

O que levas é apenas resto,
Não há nem mesmo troca ou devolução.
Apenas produto em liquidação.

Liquidou-se no tempo
Liquidou-se nas horas
No fim dos dias, nas tristes auroras.

O esconderijo agora?
O que levas é uma vida torta?
Não ousas bater à minha porta?

Sábio ditado sobre o temor
Das dívidas, das dúvidas.
Se não as tens, não há pavor!




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Habemus Papam?

Hoje, pela manhã, o mundo foi surpreendido pela renúncia do Papa Bento XVI. Sob uma forte carga de matérias, discussões, susto, indignação, o fato foi noticiado e, ao que parece, ainda assim, não vai ter retorno. Não me impressiona, não me choca, não me alardeia, mesmo que seja esse o cargo mais importante da Igreja Católica. Talvez tal gesto represente uma crise na tão soberana instituição . Penso, então, que algumas considerações devem ser feitas a respeito desse tema.

A primeira delas diz respeito a necessidade de todo o ser humano, vivo sob essa terra, de descanso. Realmente a idade chega a todos, e o corpo não é mais o mesmo. Embora seja uma escolha de vida, é esse homem apenas um homem, que não possui poderes divinos para extinguir de si mesmo as dores nas joelhos, a falta de ar, e a incapacidade de permanecer em um cargo de suma importância. Posição essa que exige mais que boa vontade e vocação, pede força física e mental, para enfrentar viagens, eventos grandiosos,críticas severas. 

Outra consideração importante é que a sociedade, ao que parece, enxerga essa renúncia como se ele fosse Deus desistindo de ser Deus. Povo insano! Não é a Igreja maior que o seu Senhor! Não é a cadeira de Pedro mais importante que o poder divino, a capacidade criadora, a força da fé. Quem ocupa esse lugar, veste-se de luxo e ouro e anda protegido pela mais alta segurança, é muito mais um administrador que um santo. Gerir um cargo que decide os rumos da maior religião do mundo não é passaporte para o céu. É, com certeza, um gesto de renúncia de vida, mas foi feito por um homem, que é tão portador do pecado original quanto qualquer mortal sobre essa terra.

Digno foi esse homem, que teve coragem de dizer que não suporta, reconhecer sua condição frágil de não poder sequer fazer o mais importante de sua missão: pregar o evangelho. Deixar a posição para que  seja ocupada por quem tem estrutura de discutir problemas importantes para o mundo, ter clareza para evoluir os pensamentos católicos de sua visão conservadora, e por vezes ignorantes, cativar jovens para a missão da Igreja, o que não vai ser feito por uma figura desgastada e sem carisma. Reconhecer a incapacidade foi um gesto muito nobre, verdadeiramente cristão. 

Cristão, porque se baseia na máxima do Rei dos reis, que é o amor incondicional ao próximo. O que faz Bento XVI senão amar? Amar a sua cadeira a ponto de desligar-se dela pelo bem de todos, de não precisar  de louvores e bajulações, de reconhecer-se fraco, de aceitar as críticas provenientes desse gesto. Cabe à Igreja, agora, a partir desse ato, rever algumas atitudes, aproximar-se mais da realidade do povo, tirar o gesso que a impede de avançar. Cabe, agora, inspirar-se nesse gesto de amor, e passar a amar também um pouco. Amar o pecador, o divorciado, o falido, a mãe solteira, o sexo seguro, o bem comum e trazer os fiéis para o seu seio, parando de jogá-los ao "mundo".

Uma mãe acolhe, abraça, aceita, ainda que com sermões e palmadas. E é disso que o catolicismo precisa. Acolher todos os seus filhos, sem distinção de cor ou condição. Não era essa a prática de Jesus? Andar em meio ao povo, escolhendo como seguidores os cobradores de impostos, os pescadores, as prostitutas. Ele não escolhia amar quem era batizado, quem fez a comunhão, quem frequentava missas. Ele não estabelecia ritos, gestos, dogmas, sacramentos. Ele apenas amava. É isso que falta à religião: menos palavras e mais práticas efetivas de caridade e amor.

Acredito na religião como uma busca do divino que há em nós. Cada um deve frequentar aquela em que essa liga se dá de maneira mais satisfatória, desconsiderando interesses pessoais. Por isso, sou católica, ultimamente meio fajuta. Nunca gostei desse Papa, pois sempre me pareceu frio e sem carisma. Mas, seu último gesto o colocou em minha grande estima. Não que a Igreja, os padres, o Vaticano tenham que atender aos meus interesses pessoais ou de qualquer outro, pois o individualismo é a grande praga da fé. Mas, para mim, ainda que essa seja uma opinião solitária, Joseph Ratzinger merece aplausos. Pela sua coragem que, respeitando as devidas proporções, me lembra Jesus expulsando os vendilhões do templo, e assim, desconstruindo uma falsa imagem da perfeita religião.

Descanse em paz, ainda em vida, Papa! E aos repórteres, curiosos, metidos a opinar sobre tudo (assim como essa que vos fala), só uma coisa precisa ser dita, parafraseando o Mestre: "Aquele que não estiver cansado, que atire a primeira pedra!"


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A dança da Colombina

Nos bailes da vida,
Confete e serpentina
Ela dança,
Linda colombina!

Senhora ingênua,
Tola, apaixonada
Belo vestido,
Cara pintada.

Surge Arlequim,
Ela se entrega.
Findada a dor,
Ela se nega.

Nega seus planos
Esquece seu sonho
Ignora o amor
Do Pierrot risonho.

Passa o tempo
Segue a vida
Desfila sozinha
Vazia avenida!

Mas a dança no baile
Gira, muda e roda
Leva a máscara
Realiza a poda.

Dor, sofrimento
Tristeza, pranto.
Senhor tempo
Trazendo novo encanto!

Refaz a vida
Da doce menina
Que gira feliz,
Luz que ilumina.

Vai Arlequim,
Leva o medo
Vem Pierrot,
Rasga o segredo.

Chora de novo
Não realiza
Vive a dor
Até poetisa!

E o sol nasce
E ela se veste
Despe o antigo
No novo investe.

Quer novos ares,
Resolve não chorar,
Carnaval chega
Põe-se a girar.

E o baile,
Esse eterno senhor,
Traz pra mascarada
Um novo amor.

Tchau, Pierrot
Tchau, Arlequim
Ela agora
Só quer Querubim!

Anjo, menino
Danada tentação
Ocupa seus dias,
Lhe oferece canção.

E os outros dois,
Inimigos, outrora
Choram a moça perdida
O fazem em má hora.

Pois ela,
Nossa bailarina.
Quer apenas o dia
Que se descortina.

Não mais choro,
Não mais pranto.
Apenas a vida
E seu doce encanto.

Quer apenas a marcha
A festa, somente
O desejo da carne
A tentação da serpente.

Quer gozo, quer sorriso
Não mais preocupação
O doce anjo
Não é ilusão.

Não é quimera,
É real
Levou a menina
Com seu toque fatal.

Enquanto aqueles doem
Esse, cura.
Acabaram as lágrimas.
É o fim da agrura!

E nossa menina,
Mulher, agora
Deixou o casulo
Jogou tudo fora.

E pôs se dançar
Linda, pelo salão.
Não mais agonia,
Não mais solidão.

Sabe serena,
Nada mais precisar
E quer, nesse baile,
Apenas dançar!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Tolo soneto

Não te dedico apenas meu verso.
É pouco! Você merece canção.
Mereces a hora, nova estação.
Tão somente canto no sal submerso.

Tolo soneto, poema adverso.
Rasgado, marcado, enjoado, vão.
Rimas pobres, decompor-se-ão.
Precisas de muito, do universo.

De amigo, cantigas, trovas, jogral.
A ti, Vinicius, não minha voz rasa.
Machado que lenha, molde real.

Quadrinhas, esquemas, arte, sarau.
Forma fixa ou a liberdade da asa,
Voo em letras, não lírica banal.



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Paraíso

Insistente
Latente
Irreverente!

Alcóolico,
Diabólico,
Infernal!

Arcanjo!
Traz a cura,
Batalha dura
Cruza o portal.

O paraíso,
ele disse,
é de quem ousa
é de quem pede
é de quem
atravessa.

a porta
o ponto
a ponte

de quem bate
e entra
de quem sente
e tenta.
de quem vai
e aguenta.

A passagem ao infinito,
ao gozo, ao amor, ao rito,
liberdade, felicidade
sem peso, sem bagagem
só tem um preço.

Coragem!