Não cantarei meu verso
Nesse dia cinza de inverno
Em pleno sol de março
Meu verso cinza
Da cor daquele vestido
Que passou e você não viu
Espelho avesso
Que não mostra
E põe dúvida
Ao que não é
Nem poderia ser.
Meu riso cinza
Dos cigarros que não fumo
E trago
De um amargo gosto
Dos retratos e elogios
Que não tiro
Meu tempo cinza
Nessa manhã
E em todas as horas
Que agora passam
Mas insistem em ficar
Nesso jogo intenso
De não ser mais o de outrora
Essa melancolia
Que não pinta de vermelho
Os corações que rascunho
Nos bilhetes que não vêm.
Meu verso esse
De dizer
Nesse cinza
Chumbo
Estranho estanho
Nesse meu verso estranho
Que verso
A esmo
Nesse março
Ou num qualquer dezembro
Já nem me lembro!