quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Calmaria

Será que beleza havia
se o mar
se o humor
se o amor
fosse calmaria?

Que graça a vida teria
sem essa miopia
sem a tirania
sem a tarde vazia?

só se sabe eterno
só se sabe o terno
só se sabe o inverno
na certeza do verão.

O muito, quando no pouco
o grito, quando no rouco
o belo , quando no roto

Sera que beleza havia
nessa certeza, tardia
nessa tarde que anuncia
que nem sempre
é calmaria.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aquela canção

E quando eu cantar a canção
nem tão velha
nem tão aquela
somente essa que soa
pensamento que voa
sem ter aonde ir.

Somente aqui,
ali, acolá
onde esteja
onde deseja
meu desejo
de ser só tua
que mais importa?
em que nota
como se nota.

Esse acorde
com que cordiais
fazemos nossas bossas
fazemos nossas noites
que talvez se notem
que talvez se anotem

em versos como esses
que podem ser que virem rimas
de alguma velha canção
que fale de inferno ou inverno.
que importa?

Se aqui sempre é verão
se aqui sempre verão
e mesmo em pobres rimas
assim desse jeito termina
a minha singela canção.

sábado, 25 de outubro de 2014

O mundo é "bão", Sebastião

No século XVI, Portugal viveu um momento histórico importante: o rei D. Sebastião “desaparece” em uma batalha marroquina, no Alcácer Quibir, tornando o reino sem governo, e consequentemente, gerando a União Ibérica, em que se tornara dependente politicamente da Espanha. Essa perda criou o mito do “sebastianismo”, em que se acreditava no retorno do rei, que, numa vinda messiânica, devolveria a independência aos lusos.  Durante muitos anos esse mito ainda influenciava nossos patrícios.

No final do século XIX, o Brasil reviveria o mito do Sebastianismo, pois em Canudos, arraial nordestino em que se combatia a república recém instalada, o líder político e religioso ainda professava o retorno de D. Sebastião. Com isso, a monarquia seria devolvida aos brasileiros e o sistema recém instaurado (considerado impróprio aos olhos do beato e seus seguidores)seria combatido.

Hoje, mais de cem anos depois, ainda parecemos viver sob o mito do sebastianismo.  O Brasil que foi se criando, sob o viés da impunidade, da corrupção, da marginalização tem a necessidade de uma figura que, de maneira “triunfal” virá para resolver todos os males. Desde a abertura política que encerrava a ditadura militar se tem essa impressão. Como se problemas de até quinhentos anos pudessem ser resolvidos por uma única pessoa.

Assim foi a eleição de Luis Inácio há 12 anos. Depois de suportar os insucessos da morte de Tancredo e do governo Sarney, do desastre chamado Collor e do arrocho de oito anos do governo tucano, os brasileiros, enfim, elegem ao poder o Partido dos Trabalhadores. Partido esse que, historicamente, representava a revolta ao sistema e a inserção da classe trabalhadora e pobre no poder. Eleger um nordestino, operário e sindicalista, foi uma forma de trazer “Sebastião” de volta, e devolver a dignidade ao povo.

O que se viu foram avanços no que diz respeito à políticas públicas, a avanços em áreas como educação e geração de empregos. Mas se observou que a figura saída do povo se “elitizou”, passou de representante do povo a representante do poder. E infelizmente, essas duas representações ainda não caminham juntas no nosso país. Somados a essa decepção, ainda temos os escândalos sucessivos em diversas esferas nos governos do PT.

E hoje, o mito retorna com sua força. Muitos vão às urnas amanhã na esperança de vencer o “mal” da corrupção com a simples digitação de dois números. A figura salvadora, o “Messias” surge, prepotente e cínico na figura tucana de Aécio Neves. Travestido de homem bom, de família, “coitado” pai de gêmeos prematuros, casado com uma linda esposa de beleza helênica, criado no seio da política, representante nato da moral e dos bons costumes.

Assim temos nosso novo “Sebastião”, que profere frases do tipo “me preparei para esse dia a minha vida inteira”, como se fosse um super herói dotado de “raios supersônicos” capazes de transformar um país, de uma hora para outra, numa cena final de um filme de Hollywood. Ontem, no debate, o mineiro foi capaz de afirmar que “para combater a corrupção é só tirar o PT do governo”.

Será que ele tira todos como idiotas, incapazes de pensar? Ou será que essa pessoa é mesmo inocente de acreditar que apenas um partido em meio a tanta lama é responsável pela corrupção? O pior é ver que tem gente que repete esse discurso vazio, sem propostas coerentes e embasadas, sem projeto de governo claro para educação, saúde e segurança. O país está assim há quanto tempo? Que eu saiba, pelo que estudei no banco de uma escola pública, a resposta data de mais ou menos uns quinhentos anos. Enfrentamos “problemas de base”, de uma colonização exploradora, de uma monarquia controversa, e de uma república criada numa falsa perspectiva de democracia. Nunca vivemos, na história desse país, uma verdadeira independência e um verdadeiro governo do povo e para o povo.

Acreditar no messias é, no mínimo, ingênuo. Querer mudar nossa condição é totalmente natural e é ESSENCIAL. Mas mudar por mudar resolve alguma coisa? Uma pessoa, um grupo ou apenas UM partido detém essa fórmula? MUDANÇA não significa melhora. Mudar é uma coisa, melhorar é outra completamente diferente. Quantas propostas realmente novas nos foram apresentadas e negamos? Por que achar que dessa vez vai ser diferente, se dermos o aval a quem já provou fazer o mais do mesmo?

Por acreditar no retorno do rei, Portugal se entregou ao ostracismo. Enquanto acreditarmos no “Desejado”, estaremos fazendo o mesmo. E enquanto esperamos, enquanto bradamos por justiça, por moral, por ordem e progresso, vamos nos afastando cada vez mais desses objetivos. O que se faz necessária é uma mudança política séria, a instituição das ideologias partidárias efetivamente representadas, uma verdadeira compreensão, por parte do povo, do papel de cada esfera dos três poderes. Enquanto isso não acontece, viveremos uma eterna ditadura.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Bordado

Com que fio
se fia
se cria
dia a dia

essa fiança
em confiança

nesse bordado
achado
de outro passado
que passou
e novo se faz

nessa linha
nesse ponto

tão propício
esse encontro
de dois "contadores"

que escrevem
novo conto
a uma só mão
um só coração

que avessos
que tão travessos

estão
traçando cada cruz

tecendo
fio a fio
sem estio

sem saber que
o que importa
não é aquilo
que se mostra

mas aquilo que se guarda
que se resguarda

o avesso
que se forma
sem linhas e nós

do belo bordado
nas linhas de nós

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O grito

Mais do que eco
Mais do que grito

Aquilo que insisto
Aquilo que ensino

Badalos de sino
em terra de surdos
Conversas murmuradas
no mundo de mudos

que condicionam
pouco emocionam
não convencem
mas vencem

com seus gritos
seus apitos
gestos repetidos

suas predileções
suas poucas ações
seu gesto vazio

em meio ao agito
silencio

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Rascunho

E aquilo que cunhei
e rascunhei
outrora
nessa hora
nem tem mais voz
nem tem mais vez
não tem aquela tez
de distância
de inconstância

era apenas uma suposta
proposta
tentativa de ter
o que agora tenho
o que agora venho
cantar mais uma vez

como nos versos
da "monomania"
essa cantoria
em corda, em cordel
verso livre, em papel
digitado ou em caderno
nesse meu jeito terno
de escrever
meu amor eterno.




quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Divisória

Como dividir a cama
como dividir a grana
como conviver
com quem se ama?

paredes invisíveis
sonhos possíveis
nessas horas cabíveis

que se cabem
em cabides
que se fazem
em prateleiras

que se partem
em partes
em pratos
em fatos

nossos retratos
felicidade tão notória
não existe divisória
final feliz de uma história

que resiste
que insiste
sem revide
e se divide

nossas porções
nossas canções
nossos passos
nosso espaço

onde o grande
e o pequeno
o perene
e o efêmero

se esbarram
nessa divisória eterna
em divisão contraditória

terça-feira, 29 de julho de 2014

Automático

Automatiza
autônoma ação
ao progresso diz sim
pro homem diz não
põe fim ao sino da fábrica
às conversas de corredor
aos assuntos de elevador

Essa máquina
domina
esse homem
que maquina
e maquia
e termina
determina
nova rotina
de seres rotos
de pensamentos ocos

Robô
que roubou
que informatizou
que a metáfora matou
nesse império da razão
nessa era da evolução
em meio à tecnologia
quem automatiza a poesia?

quinta-feira, 17 de julho de 2014

me chamo te amo

Não me chamo Antônio
não me chamo outono
não me chamo antônimo
não me chamo antítese
não me chamo tese

me chamo
quando te chamo
quando te amo
quando te tanto
quando me encanto
com seu encanto
com esse encontro

com esse nome
que nem importa
como se chama
se inflama
nessa chama
nossa cama
nosso quintal

por que me chamo
eu te amo

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Contradição

Essa rota
Rôta
Torta
Opaco espelho
Que mais oculta
Que não reflete
Reflexo e reflexão
Diz sim ao não
E não se manca
Se tranca
Dedo que aponta
Trágica tela
Martela
Tão tolos pregos
Disputa de egos
E arrota
A figura torta
Em frágil caminho
Constrói seu curral
Gesto tão banal
Assim tão boçal
Quanto os poderes
Quanto os deveres.

Cooperação
Coopera em ativa
Inativa
Roda viva
Que insiste em girar
Em falar
Em calar
Em banir
Em oprimir
Em opor
Em pôr a dispor
Tanto riso
Em juízo
Tanto gesto preciso
Tanta ordem
Tanta opressão
Contradição

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Sem título

Mesmo sem título,
ainda é poema
fechado, contrito
assim, num sistema
de silêncio restrito
meio a tanto problema.

Ainda sem rima,
a palavra reanima
o que se escreve
o que se diz
o que se quis
mas não condiz.

Que os gritos de horror
momentos de dor
sangue incolor
que escorre diariamente
E a gente nem sente
e a gente consente
E a gente?

Com as mesmas letras
que se adoça, se mata
de bar em bala
e o peito estala
e o medo instala
e a gente cala.

Quanta vala!
Quanta vela!
Quanta noite de espera!

Nesse verso que não diz
Na falta de melhor canção
Falta sílaba, escansão
Numa poesia
rubra de sangue
Desse momento em que
estanque
Faço verso, ganho voz
Quero eco, quero paz
Assim, num grande dilema,
De encontrar, talvez, Certeza,
Para titulo desse poema.


terça-feira, 27 de maio de 2014

Essência

O que se veste
transparece
em transparência

não mostra tanto
nesse encanto
com que te canto
com que te conto

nada é visto
nesse vestido
opaco vidro
do que se é.

mais do que veste
vale o que despe
alma e corpo
vida e coração.

o que pertence
o que revela
o que singela
se guarda
a uma chave.

essa  latência
pura aparência
do que se mostra
do que se dá
do que se ama
do que se vê
do que só vê
a essência


terça-feira, 20 de maio de 2014

Tanto maio

E já se vai quase maio
passou feito raio
nesse balaio,
assim como um desmaio.
caio.

Nem se abril,
nem se fechou
ainda em punho.
cunho,
antes de junho
testemunho

esse mês com suas noivas
esse mês com suas mães
tanto aniversário,
tanto verso,
tanto ensaio,
tanto mais,
tanto maio!





terça-feira, 29 de abril de 2014

Planeta dos macacos

Enquanto formos macacos
tão simplórios, tão fracos
enquanto registramos retratos
dessa singela fruta
que insulta!

Nossa natureza,
nossa delicadeza,
nossa esperteza,
que nos separa
nos distingue.

Somos todos humanos
nesse mundo rumamos
teoria da evolução
falta de opinião
simples repetição

daquilo que se ignora
daquilo que apavora
nesses pré conceitos
nesses preceitos
nessa pouca inteligência
nessa vida de aparência
nessa moda, essa demência

teremos mesmo involuído?
nossa pensar tão banido
dando nosso ouro a bandido
tanto gesto desmedido
tanta pouca reflexão.

somos massa de manobra
nos contentamos com a sobra
nos contentamos com a falta
comportamento que ressalta
essa obediência nata
essa nossa submissão.

Falta de visão
destinação?
ou pura opressão
mera distração
simples constatação
está faltando reflexão
está sobrando falação.
Está faltando emprego
no planeta dos macacos





segunda-feira, 31 de março de 2014

Atenção para o refrão!

Essa dita dura,
que há cinquenta
endureceu,
que emudeceu
que desapareceu
que escondeu,
que escureceu.

Essa dita,
coisa esquisita
página escrita
com sangue,
com lágrimas,
com suor,
com grito.

Mas em verso bonito
De Franciscos
e Geraldos
De Gilbertos,
peitos abertos,
braços erguidos,
filhos banidos
dessa pátria
madrasta

Que castiga,
que tortura,
dita cuja,
Tanto segredo
Tanta injúria,
tanto martírio
tanto exílio.

Tanta gente sem falar das flores,
tanto poeta calou seus amores,
tanta mãe sem chorar suas dores.

História triste,
e nem distância
assim existe
tanta
pra ser apenas uma folha
de um amarelo papel
de escondidos documentos.

Por que não mais lamentos?
Por que não mais aqueles intentos?
por que não mais estamos fortes e atentos?

Atenção, tudo é perigoso!
ainda grita a intolerância,
escondida,
a censura
a pena dura
a intolerância
a ignorância

a falta de cultura
a ameça futura
que é dura
e dita
Ditadura.





quinta-feira, 27 de março de 2014

Teste

Silêncio de morte
Lançada a sorte.
Dos que sentam
Dos que tentam
Mão à caneta
"Não bate, sineta!"

A nota!
Anotam
nem notam,
esquecem e decoram
escrevem e olham
Pro lado, pro acaso, pro nada

Matéria decorada,
Gramática aplicada
Plural e singular
Que concordam
Em número e gênero
Instante nada efêmero

Parece não acabar
Parece que vai resultar
Azul ou vermelho
Ensaiam diante do espelho
Aquilo que aprenderam
Mais o tanto que esqueceram.

Então, bate o desespero
Querem dez, não querem zero
Vão fazendo com esmero
Bem sabendo que tal gesto,
é aquele que aprova.

Semana de prova!




segunda-feira, 10 de março de 2014

Como Raul já dizia

Usa óculos escuros
quem não tem colírio,
quem não tem delírio,
quem leva esse martírio.

Minha vó já me dizia,
sai de cima desse muro,
nesse mundo me aventuro
peito aberto, coração puro.

Um menu com coisa tanta
certo grito na garganta
nesse frio, pegue a manta
levanta!

Quem não tem gato,
caça com cão
quem não tem prato
come na mão.
feijão com arroz,
mortadela no pão.

E a banana e sua vitamina?
e a gente bacana?
e a linda menina?
e as cores bonitas
que com a vida se pinta?

E assim como Raul já dizia,
meio em tom de profecia,
carregado de ironia
guarda-chuva pra água fria.
bom humor pro dia a dia.

se cigarra ou formiga,
canta junto essa cantiga,
sem problema, sem intriga

Dê à cara um sorriso,
cante alto se preciso,
não se esqueça do improviso.
qualquer lugar é paraíso.
pra quem vive sem aviso.





sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Mosca azul

Seria uma picada?
Ou apenas mancada.?
isso que te leva
que não releva
que não revela.

nesse quintal
podre curral
cabresto e arreio
freio

contradição
tanto se não
velho bordão

do que manda
do que pode
do que estanca
nesse paiol
que explode

tão rota figura
figura
soberba e grande

nega,
enquanto carrega
falso fardo

lanço "dardo"
recolho retalho
entalhe
em madeira podre

ingenuidade?
será mesmo verdade?
seria apenas vaidade?

um tanto de covardia
um muito de tirania
um quê de muita ironia

o que justifica?
o que ratifica?
o que se complica
em atitude tão tosca?

É tudo culpa da mosca...


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Precoce

O que se pinta
o que pinta à tinta
Antes do prazo
Azo.
Corta a asa
Quebra a casca
Apodrece antes
Madura depois

Prematuro
Esse fruto
esse futuro
Pré datado
Antecipado
envaidecido
destino falido

Do que é antes
E o durante?
E esse instante?
Sonho,
embora errante,
se constrói
Do pouco ao muito

E se destrói
em se fazer agora
e esquecer, nessa hora
que o porvir
é mais bonito
e o amanhã
é infinito

E não se fia
não se adia
não se adianta.
Nem adianta!
trazer o depois
para o agora
fazer o amanhã
vestígio de outrora
fazer findar manhã
antes mesmo da aurora

Trazer o que já foi
carro antes do boi
presente embrulhado
num futuro passado
o que já é
e quem fora
ainda que fosse

Precoce.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Embaralhado

Embaralho
o baralho da vida
Corte!
Suja canastra

Nos versos do rádio
ouço em profecia,
pessoa nefasta

Vida vasta
arrasta
o que um dia veio

um belo
revela-se tão feio.

Novelo
que embola
nessa novela
nova querela

Antagonista
agoniza
divisa

nesse dizer
e nesse fazer
entre seguir
e esquecer

nem o que fazem
nem o que dizem
não falo
não faço

escrevo
verso raso
sem roteiro

pra expressar
melancolia
no final desse janeiro.



terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Por que você veio

Por que você veio...

quando disse que podia,
vencendo do medo
a cruel tirania.
fez doce janeiro,
trouxe alegria,
que não cabe em gavetas,
será que amaria?
sem essa mania
sem nosso bom dia
destino e ironia
a essa história pertencem.

Singelos pertences
convencem
que esse é o primeiro
de todos os outros
de todo o resto
de um novo rosto
de um amor proposto
em um tempo oposto
que começa no fim
e por nada termina

Vida que ensina
Doce rotina
Bela retina
Amor, galanteio
Que assim, sem anseio,
fez do fim, novo meio.

Por que você veio!