segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Tola canção

Outro dia ouvi no rádio
Numa sala qualquer
De um dia quente de janeiro
Que amores são amáveis
Sempre!

Tolas canções
Em que não me amas
Que não me nota
E não anota
Em guardanapo torpe
Um verso de algum cantor.

Vazio está o espelho
Em que me espelho
Mas não me vejo.
Seus olhos cerrados
Dizem mais de mim
Que de você.

E cantarolo
Meu compositor favorito
Mas, que de velho,
Já deve ter se esquecido
Daquele verso
Que vais ouvir
E me escrever.
Em dedicatória de uma manhã
Que de tão linda
Já não será mais fria.

Meu verso guardado
Numa letra que ainda não ouvi
Numa cantiga esquecida no tempo
De uma gaveta que emperrou
E agora guarda amarelas folhas.

Vai ver voaram!
Justo esses, os mais importantes!
Ou se queimaram
Ou se apagaram
Ou nunca foram.

São sempre tristes
Os mais belos versos!
Vai ver é isso!
Que de tristeza não queres dizer
E cala!

E naquela sala
De uma manhã
De frio janeiro
Espero!

Para receber um novo amigo

Já começamos velhos
Já começamos presos
Já começamos tesos
No que se foi e já deixa vago
Nosso projeto.

De amor e de amar
De Marias, de Marielles
De todos aqueles
Que fizeram do luto
A sua luta
Mas que não perderam

Ao que se vai, um breve adeus
Não de esquecimento,
Mais até de livramento.

Ao que chega, uma interrogação.
Para onde ir
Quando as portas
Parecem fechadas?

Quando tudo parece arrancado
Quando tudo parece assassinado
Por uma mão vil e oculta
Que nos segura o pescoço
E nos arranca a voz.

(O brado silencioso em meu peito é latente.)

Arrancaram nosso sorriso
Minaram a nossa força
Ocultaram-lhe a face
Sua urna é lacrada!

Só que as ideias são infalíveis
E às balas sobrevivem,
Ainda que de canhão.
Nossos sonhos não morrem
E nem envelhecem
Assim como já diziam
Na canção de alguma esquina.

Em que viramos e sumimos
Para renascer!
Semente enterrada
É certeza de planta nova.

Já se vai o velho
Para chegada do novo
Que ainda que incerto
É bem-vindo!