terça-feira, 18 de junho de 2013

Baú

Que segredo esconde
esse cofre cerrado?
Que segredo abre
esse cadeado?
Que linha tão tênue
borda o passado?

Uma árvore lembra
o salgueiro que chora
nos meus livros de bruxos.
Sonhos tão meninos!
Travessuras do destino!

Agora uma porta cerrada.
Outrora, tão enfeitada
Como as casas de bonecas.
Não conheço,
Mas assim vejo.

Quantos sonos velados,
quantos terços rezados,
quanto pranto silenciado,
quanto pano bordado,
quanto amor revelado,
de forma singela,
retratado.

O que guarda esse baú?
As lembranças das crianças,
as tamanhas esperanças,
o inevitável e sua fiança.
uma vida de aliança,
um sangue e sua herança.

O que guarda essa caixinha?
Uma doce bailarina,
nessa dança de menina,
em música tão doce e fina.
Guarda preciosa joia
Guarda a pérola mais rara
Guarda um pouco de vanguarda
Guarda o tempo e sua saudade
Guarda a felicidade!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Malabarista

E no picadeiro faz-se a luz!
Surge a estrela,
em vestes de festa,
em noites como esta,
dia a dia,
semana a semana,
ano a ano,
sempre atrás do pano,
sempre o mesmo engano,
quiçá de uma vida.

O que busca é o equilíbrio,
entre tantos instrumentos,
entre tantos lamentos,
entre tanta oscilação.

Os seus amores são seus pratos,
alguns tão baratos,
outros de vidros que duram,
alguns em plástico vil,
e um nobre porcelana.

Todos no alto,
Tomados de assalto,
por esse travesso,
e sua vida ao avesso,
e as suas travessas,
sempre em suspensão.
Corre,arrisca-se,
precisa mantê-las.
No ar,
sem os pés no chão.

Só assim, 
distrai-se,
Só assim
compraz-se
Só assim
refaz-se 
do que passara.

O lembrança de outrora,
O medo de nova aurora,
A queda que o apavora,
Precisam também do ar.

E lá estão eles,
pratos, pires, travessas,
meninas tão travessas,
que insistem no desequilíbrio
insistem em ameaçar, 
insistem em fazer lembrar.

Que o que queda
é ele mesmo,
junto com o seu prato, 
junto com seu coração lasso,
junto com aquele baço,
que o primeiro erro deixou.

Queda a cada segundo,
queda e faz-se caco,
revela-se fraco,
revela-se o asco.
Queda a cada queda,
que não realiza,
a cada sonho 
que não eterniza,
a cada solo irregular
que não pisa.

Queda e não se resolve
Queda e não absolve
A sua grande culpa,
de no primeiro espetáculo,
sair sem seu aplauso.
Não cata o que sobra,
não sente e não se desdobra.
não vê que público cobra.
não acaba a sua obra.

E segue, absorto,
em fazer do prato morto
seu referencial.
E segue, triste e roto,
com seu estranho retrato,
querendo em todo prato,
farta refeição.

E seu eterno movimento,
transforma-se em triste lamento,
daquela que lá de cima,
a porcelana mais fina,
da corda bamba o examina.
Ingênua bailarina!




domingo, 9 de junho de 2013

Intervalo

É tão claro,
Como a água que escorre.
é quente, é frio,
é arrepio.

não há o que revelar,
nesse dizer velado
nesse viver calado,
nessa interpretação.

e o intervalo?
de que importa?

Importante mesmo
é o tempo regulamentar
são as regras do jogo
é o resultado final

Não há juiz,
só uma aprendiz,
só um que diz
para que eu não diga.

Importa o contraste
da minha branca tez
da minha embriaguez

Com seu escuro,
com seu obscuro,
com seu ébrio.

Importa a sua resistência,
importa a minha paciência.
importa a nossa indecência.

Importa o trancar da porta,
as quatro paredes,
e os tantos desejos.

Importa a loucura,
importa a doçura
importam seus beijos.

O seu oásis,
o nosso tempo
que relógios não medem.

De resto é só possibilidade.
De resto é só sua verdade.
De resto, só curiosidade.

Mas esta, você detesta!
Então o que me resta.
É somente calar.

E é quando mais falo,
nessas horas que me calo
e deixo a razão esvaziar.

E é quando mais calo,
nessas horas em que falo,
aquilo que não sei precisar.





quarta-feira, 5 de junho de 2013

Acorde

Outrora disse sim
Outrossim, digo novamente
O mesmo sim,
de modo inverso.

O mesmo gesto que une
Acorda o desacordo
Para que acorde nova vida
Para que acorde em novos sonhos
Para que soe novo acorde.

A cor de um sentimento
que se fez cinza
e já não sabe de cor
o lamento,
o intento,
o invento,
o tempo do outro.

Assino o que desfaz
O que refaz, o que apraz
O que retorna,
O que conforma,
O que contorna,
O que torna novo,
Aquele velho ser.

Sem resquícios de mágoas,
O reinício.

O que se faz em laço,
O que se aliançou,
Não mais se fia,
Rompeu-se a fita,
Desfez-se o nós.

Agora, novamente eu,
Um ser inteiramente meu.
Uma só carne
que desencarna,
Para encarnarem novas almas.

De dois
que já não sabem mais
ser par
E que separam
O conjugado,
É tempo passado.
Mais que perfeito
Mas foi desfeito.

Em verso,
coloco o reverso,
em verso, expresso,
em vez do sim,
a hora do não,
que se fez solenemente,
Em verso, estão.
Só não mais são.

Separação.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Nua e crua

Nua e crua
a tal verdade que propaga

Casca dura
Velhos clichês

O que esperar?
Como proceder?

O príncipe em lista
de critérios incertos

Um a dez,
todos marcados.

Gestos traçados,
Diálogos ensaiados.

Homem e mulher retratados
Num plano determinado.

Deu tudo errado!
Saiu do planejado.

Num voo de balão
Veio a revelação

Que é nua e crua
Mas não se anula

E por mais que doa
Nunca é a toa

E mesmo que mande a razão
A verdade mesmo,

Em Hollywoood
Ou no Japão,

Na princesinha
Ou no durão,

é que ela
sempre cede ao coração!